3 de agosto de 2010

A perda

Ela era jovem, bonita, inteligente e casada. Chamava-se Júlia, por quem Pedro havia se apaixonado.
Ele não pensava em se relacionar naquele momento, mas o destino havia lhe pregado uma surpresa. Pedro era formado em administração e foi contratado por um banco, mas tinha que se mudar para uma cidade vizinha.
Com a mudança de vida, Pedro estava se sentindo bem, satisfeito. Até que se deparou com uma linda mulher de cabelos longos e negros, pele rosada e de corpo perfeitamente esbelto, empenhada, trabalhando em seu computador. Quando a viu pela primeira vez, seu coração palpitou de forma estranha.
“Na primeira vez que a vi meu corpo parecia querer se dirigir a ela como se tivesse um imã me atraindo; fitei meus olhos nela como se fosse a certeza de que a felicidade estava mais perto do que nunca em mim”, disse ele com um brilho no olhar.
Os dois apenas se viam quando Pedro precisava ir até a sessão de recursos humanos, onde ela assumia a função de gerente de relacionamentos, porém nunca haviam sido apresentados formalmente.
Um dia de chuva contribuiu para dar início a uma história inesquecível para a vida de ambos. Ele havia deixado seu carro na oficina para revisão, enquanto caminhava a procura de um táxi, ela ofereceu-lhe uma carona, que lhes proporcionou o começo de uma amizade em que os dois cada vez mais sentiam-se envolvidos a cada timbre de voz que soavam.
A companhia até o apartamento de Pedro foi suficiente para que os dois se conhecem. Incrivelmente havia uma ligação entre eles que não se explicaria facilmente. Surgiu uma cumplicidade grande que fez com que se tornassem amigos, ao ponto dele ser convidado para jantar na casa dela no dia de seu aniversário, juntamente com outros amigos mais íntimos e o esposo.
Embora não agradasse o fato dele vê-la abraçada ao marido, Pedro resolveu ir ao jantar pelo simples desejo de participar de um momento importante da vida dela. Cada vez mais sentia-se envolvido.
As noites solitárias faziam-no refletir sobre como ele poderia conquistá-la e tinha noção de que não seria uma tarefa simples. Júlia casou-se há menos de três anos, o que dava a idéia de uma relacionamento banhado na paixão forte que afeta os novos casais. Mas eles trocavam olhares desconfiados, assustados.
Pedro, então, tomou coragem e a convidou para sair na sexta feira, depois do expediente. Claro, com a desculpa de que seriam apenas umas horas de diversão fora da rotina do casamento; nada mais que amizade. Ela aceitou, escolheu onde ir, mas deixou claro que só ficaria lá por duas horas, no máximo, pois precisava voltar para casa cedo, antes que o marido desconfiasse de qualquer coisa.
Foram a um restaurante um pouco distante do bairro em que ambos moravam, dançaram ao som de músicas dos anos 70, embalados por covers do Led Zeppelin e David Bowie; beberam alguns drinks especiais e nem notaram o tempo passar. Já ia bater meia noite quando Júlia percebeu a hora e quis voltar para casa.
Ao se despedirem, um beijo não escapou. Rápido, porém, desejado por eles. Fez-se silêncio e cada um seguiu para sua casa.
No domingo seguinte ela foi a casa de Pedro; queria conversar sobre o que aconteceu; queria desculpar-se pelo beijo e por, de certa forma, permitir que ele tivesse acontecido. Foi então que ele declarou todos os seus sentimentos a ela, que se assustou pois não tinha noção do quanto Pedro estava envolvido. Correu, bateu a porta, foi-se.
Durante três meses os dois se encontravam pelo menos duas vezes na semana. Fingiam apenas amizade de trabalho; empenhavam-se em ser discretos no meio profissional, mas sentiam-se cada vez mais atraídos um pelo outro. Aquela paixão aumentava de forma devastadora.
Certo dia, Pedro lhe propôs ficarem juntos; não havia mais dúvidas do quanto ele a amava e queria a qualquer custo lutar por ela. Quis saber a posição dela e após uma longa conversa sentiu-se como se tudo não tivesse mais sentido.
Júlia estava grávida de 2 meses de seu marido e, ainda pior, gostava muito dele e não pretendia deixá-lo naquele momento. Teve de ser sincera consigo e com ele, apesar de se sentir abalada, era uma decisão a qual ela já vinha pensando antes mesmo dele se manifestar.
Apenas por mais duas semanas Pedro e Júlia se encontraram.
Hoje ele ainda tenta aceitar a situação, mas sente-se sozinho, sem vontade de conhecer novas pessoas e a dor da perda lhe consome todos os dias.
Júlia pediu transferência e hoje vive em outro estado. Não manteve contato com ele, que espera a qualquer momento uma telefonema de arrependimento.

Nenhum comentário:

Postar um comentário